A Pedra do Cassaco - Contos da Tonina




A Pedra do Cassaco

Todos os dias estava lá, quando iam encontrava aquele homem alto e magro, um tanto abatido, em cima de uma grande pedra, com uma marreta nas mãos, quando gentilmente diziam “bom dia”, ele os olhava e os comprimentava gestualmente com a cabeça, na volta o encontraram ao lado da pedra, quando o saudavam com “boa tarde”, ele mantinha a cabeça baixa olhando para as mãos que nada tinham.

Certo dia algo estranho aconteceu, foi numa sexta-feira, quando voltavam para casa, por volta das 23h (vinte e três horas), quando na estrada viram uma luz lilás à sua frente, a princípio achavam que era alguém com uma lanterna, mas ao se aproximarem viram que saia da pedra em que viam aquele homem, ficaram assustados e passaram rapidamente, mas algo que parecia não ser desse mundo os acompanhou como se estivesse segurando uma vela nas mãos. Ambos de bicicleta pedalaram o mais rápido que puderam. Chegando aterrorizados em casa, ainda mais quando ouviram um batido na porta, que não ousaram abrir. Com medo ficaram acordados até o amanhecer do dia.

Na manhã seguinte, ao abrirem a porta, encontraram no chão uma pedra entalhada em forma de vela. Olhando um para o outro, tiveram a certeza que o que viram na noite anterior era real. Assim foram na casa de um casal vizinho de sua residência para falar sobre o ocorrido, e lá tiveram conhecimento da seguinte história:

Tudo se deu por volta dos anos secos onde muitos sertanejos, para não morrerem de fome se obrigaram a se cadastrar para trabalharem na construção de novas estradas por alguns tostões, nessa empreitada eles viviam como nômades de um lugar para o outro, carregando o pouco que tinham nas costas,uma rede e uma muda de roupa, se abrigavam debaixo de árvores. onde cozinhavam e dormiam. Como a água era escassa, não tinham como manter-se bem asseados, assim esses trabalhadores começaram a receber o apelido de cassacos, por conta do cheiro forte de suor que carregam junto a si, reportando ao animal com esse nome.

Quando chegaram à Antonina, um deles viu naquela grande pedra, um bom local para guardar seus poucos pertences. Passado mais ou menos uns três a quatro meses, findaram a obra e receberam a notícia de uma outra frente de trabalho. Assim, cada qual procurou arrumar suas trouxas, como diziam, inclusive aquele que guardou debaixo da pedra.

Todos almoçaram e resolveram descansar um pouco antes de partirem quando escutaram um grande estrondo e logo avistaram a poeira cobrindo a estrada, vendo que a grande pedra, de cerca de mais de mil quilos havia despencado sobre aquele pobre homem, juntos, os amigos, até tentaram levantar a pedra, mas foi em vão.

Nunca ninguém soube o seu verdadeiro nome e nem ao menos sabiam quem eram seus familiares, pois seus documentos estavam com ele. Mesmo lamentando seus companheiros partiram, deixando-o ali, para sempre debaixo daquela grande pedra, que ficou sendo chamada de “Pedra do Cassaco”.

Desde então aquele lugar é assombrado, escutam o som de marteladas fortes sem ter ninguém por lá e à noite muitos dizem ver luzes que saem daquela pedra, por essa razão ninguém gosta de andar por aquela estrada, abrindo outro caminho, um pouco mais distantes, mas sem eventuais surpresas.

Ouvindo tudo aquilo que lhes fora relatado, estremeceram e tiveram a certeza que desde que começaram a ir trabalhar passando por aquela estrada viam o tal homem lhes comprimentando todos os dias da semana. Perceberam então que seu espírito estava preso ali e ele precisava de luz para chegar ao reino dos céus. Por isso, resolveram celebrar naquele local um terço e acender uma vela de sete dias na cor branca que ao contrário da negatividade da cor violeta que o vulto carregava a cor branca iria trazer aquela alma a paz de espírito que tanto ansiava.

Dizem que desde esse dia nunca mais foi visto.

Cristiane Ferreira Arrais

História baseada no depoimento da Professora Penha Morais e seu pai conhecido por José Tintino e tias Ana, Maria e Severina, primeiros moradores da Serra dos Almeidas, sobre lendas e curiosidades locais.

Confira o depoimento:





Comentários

  1. Sempre gostei de ouvir minha família contar histórias, reais ou não, principalmente minha avó e meu pai.

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