Texto para refletir
Contos indiano – Nada na vida
acontece por acaso
NADA ACONTECE AO HOMEM QUE NÃO
É PRÓPRIO DO HOMEM
MARCO AURÉLIO, IMPERADOR
ROMANO
Um príncipe cujo pai, o rei,
tinha um conselheiro, um sábio ancião que, de forma serena, sempre repetia a
máxima de vida segundo a qual “tudo acontece para o melhor, nada acontece por
acaso”.
O príncipe cresceu ouvindo o
jargão do ancião. Jovem e imediatista, achava que o sábio não tinha razão e que
as coisas eram absolutamente casuais. Portanto, aquele conselheiro não tinha
sabedoria alguma.
Certo dia, seu pai falece e
ele assume o poder. Logo pensa em dispensar o conselheiro derrotista e
conformista que só sabia repetir sua velha máxima.
Em uma bela ocasião, o novo
rei resolve ir caçar com seus homens e, junto com eles, o sábio. O novo rei
pretendia, na primeira oportunidade em que o ancião repetisse o jargão, se
livrar dele.
Quando chegaram ao meio da
floresta, o tempo sofre uma reviravolta, e uma ventania violenta toma conta e
derruba um galho, que bate contra a testa do novo monarca, derrubando-o do
cavalo e resultando em um corte profundo na testa.
Caído no chão, meio atordoado,
e com todos em volta para acudi-lo, o rei se levanta e reclama: “Que absurdo,
como pôde acontecer uma coisa dessas comigo? Me machuquei inutilmente”.
Logo, o sábio conselheiro
chega perto dele e fala: “Não se preocupe. Tudo acontece para o melhor, nada é
por acaso”.
Indignado com o sábio, o rei
ordenou a seus homens que cavassem um buraco, amarrassem o ancião e o deixassem
para os chacais comerem. “Agora quero ver se ele vai achar que é para o
melhor”, disse o monarca.
Ao ir embora, o rei se perde
de sua comitiva pela floresta e escuta de longe um barulho. Pensando serem seus
homens, ele vai até os comandados e encontra um grupo de bandidos, que o
aprisionam. Os ladrões estavam fazendo um culto a uma divindade e teriam que
entregar um ser humano em sacrifício.
Os bandidos levam o novo rei
para o altar e, no momento de sacrificá-lo, percebem na testa dele um corte.
Reclamam que, para servir de sacrifício à divindade, o ser humano deve estar
íntegro fisicamente. Então o mandam embora, pois aquele homem não mais servia.
No mesmo momento, o novo rei
lembra-se da sabedoria do velho sábio e admite que o conselheiro tinha razão.
Mais tarde, ao reencontrar
seus homens, ele vai em busca do conselheiro, afirmando que cometera uma
injustiça. Ao chegar no poço, retira o sábio de lá e lhe pede desculpas,
dizendo que a ferida o salvou.
O velho disse: “É, aqueles
bandidos que tentaram te matar passaram por aqui também. Só não conseguiram me
achar pois eu estava dentro do buraco. Tudo acontece para o melhor, nada é por
acaso”.
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